José Sobrinho nasceu em 1933 na freguesia de Salir de Matos, concelho de Caldas da Rainha. Entrou para o exército quando tinha cerca de 20 anos e ficou sempre associado à vida militar, servindo em Macau, Angola e Guiné, locais onde passou longos períodos. Já em Macau, o seu primeiro destino, concluiu o 7º ano do liceu, condensando 7 anos letivos em 4 anos, com a ajuda de dois professores que lhe deram explicações gratuitas.
Desde criança que gostava de desenhar e se dizia portador de uma boa memória visual. Nunca frequentou nenhuma escola de artes, mas uma lição de perspetiva com um pintor amador que visitava a sua terra marcou-o até ao fim dos seus dias. Foi desenhando e pintando ao longo de toda a sua vida, mas a sua produção plástica aumentou consideravelmente quando se reformou. A partir daí, começou a pintar pequenos quadros onde representava lugares, profissões antigas, amigos ou familiares, detectando-se claramente uma vontade documental na sua criação. Uma das suas maiores séries é dedicada às aves, cujo progressivo desaparecimento da sua zona de residência lamentava: desenhou numerosos pássaros, que fazia acompanhar de pequenos textos que cruzavam dados biológicos sobre as aves com referências autobiográficas. A justaposição de quadros pintados com elementos textuais é precisamente um dos elementos que singulariza a sua obra, dando-lhe um carácter narrativo. Mas também nas técnicas que utilizava se deteta a originalidade de José Sobrinho: juntava pó de madeira “carunchosa” com tintas a óleo, o que resultava numa superfície densa e com relevo.
A família descreve-o como uma pessoa de paixões intensas, de convicções e causas: indignou-se contra a matança das rolas, criou o santuário da perdiz, publicou dois livros de memórias. Apaixonou-se por um amieiro que encontrou na sua região e conseguiu a sua classificação pelo Instituto de Conservação da Natureza, tornando-o numa árvore protegida. Com vista à preservação do amieiro do Patalugo, mudou a direção de um curso de água que o ameaçava e plantou outras sementes da mesma espécie para possibilitar a sua reprodução. Aos 89 anos, de forma inesperada, resolveu pôr termo à sua existência, declarando já ter feito tudo o que tinha a fazer na vida. O “seu” belíssimo amieiro centenário permanece, prestando-lhe a devida homenagem.