MARIA OLINDA

Escultura em madeira, Arrifana, Vila Nova de Poiares

Maria Olinda Gouveia nasceu em 1935 na freguesia de Arrifana, em Vila Nova de Poiares, perto de Lorvão. Quando nasceu, já há séculos se produziam palitos de madeira, preferencialmente em salgueiro branco, com origem provável no Mosteiro de Lorvão, onde as freiras começaram a fazê-los para melhor “picar” os seus bolos e doces. No final do século XIX, muitas famílias da região complementavam o seu orçamento familiar com o dinheiro obtido na execução de palitos, que eram vendidos a granel a empresas de Lorvão que depois os embalavam para venda nacional e internacional. Maria Olinda fazia parte de uma família numerosa de 17 pessoas que se dedicava a esta atividade e, tal como todas as outras raparigas, iniciou o seu trabalho aos sete anos de idade.
Lembra esses tempos com saudade, quando a família mexia e remexia, cortava e afiava a madeira de salgueiro, à sombra de uma cerejeira ou de uma figueira, cantando para melhor passar o tempo. O trabalho árduo e necessário não permitiu tempo para estudar. Ainda assim, por volta dos 17 anos, começou a aprender a ler e escrever – os namorados a isso “obrigavam” – e acabou por fazer a 4ª classe em meados dos anos 1990.
Cansada dos palitos e seduzida pelo macio da madeira, aos 15 anos fez a primeira peça – um moinho trabalhado com amor – ao lado da sua tia e madrinha. Escondeu o moinho e fez depois um barco, peças que a sua irmã descobriu, mostrou a outras pessoas e, por causa disso, se zangaram. No entanto, a partir daí, com uma navalha sempre afiada num xisto negro azulado muito especial, foi fazendo inúmeras peças que a sua imaginação sugeria. Pavões, presépios, santos, moinhos, barcos, palmeiras foram saindo das suas mãos, bem como uma grande variedade de palitos decorados para diversos fins. Destacam-se os seus presépios que obtiveram vários prémios nacionais.

Texto e fotografias cedidos pelo arquivo da Santos Ofícios.